sábado, 9 de julho de 2011

A Bandalha Larga

Em 1995 um provedor no Rio de Janeiro pagava R$ 7.500,00 por 64 Kbits/s de Internet a Embratel.
Desde então o valor da banda tem caido assustadoramente. Hoje os grandes provedores compram banda a R$ 80.00 / cada 1 Mbits/s das operadoras Intelig, Embratel, GVT, CTBC, Telefonica, etc.
A tendencia de queda é inexorável e permanente seguindo a tendencia geral de queda de preços e melhor qualidade de todos os produtos e serviços da área da Informática.
Podemos portanto prever que dentro de 10 anos estaremos recebendo 100 Mbits/s em casa a um valor que não vai passar dos R$ 100.00. Esta é uma tendencia certa e segura, independente do que o governo faça, deixe fazer ou mesmo trabalhe contra.

O que não temos no Brasil é a Internet no interior e para as populações menos favorecidas o que termina caracterizando como sendo uma grave questão social de cidadania. E, é neste caso, que temos que discutir o papel do governo: para que servem afinal as politicas públicas!
Esta é que é a questão!
Negociar 1 Mbits/s a R$ 35.00 com as teleoperados e livrá-las de outras obrigações é demagogia e o mais puro cinismo. Foi usado o pretexto da Banda Larga para livrar as operadoras de certas obrigações que elas não estavam querendo cumprir. Além disto, se firmou no termo de compromisso a possibilidade de venda casada, que desde o ponto de vista de defesa do consumidor, é um escândalo.
Ainda mais quando temos muitos provedores, até de pequeno porte, já vendendo 1 Mbits/s por R$ 35.00.
A questão crucial do pais é levar a Internet ao interior do pais e as populações menos favorecidas.
O que está ocorrendo é que sob o pretexto de ampliar a banda larga está se contrabandeando favores as teleoperadoras.
Preços e velocidade podemos considerar metas secundárias, já que inexoravelmente ocorrerão. O que não é certo é a democratização do acesso a Internet pelo interior do pais e para todos os lugares e classes sociais.

Termo de compromisso
Acaba de ser publicado nos jornais que se firmou um termo de compromisso na última quinta-feira, dia 30 de junho, entre o governo fedreral e as concessionários de telefonia fixa, para vender Backbone Internet para os provedores, que são cerca de 2900 no pais, a R$ 1.100,00 por 2 Megabits/s ...
Piada! Os pequenos provedores já compram na faixa de R$ 200,00 cada Mega. Os grandes provedores compram, para quantidades na faixa de 1 Gigabit/s = 1.000 Mbits/s a R$ 80,00 o Mega.
Se formos aceitar as contas do governo e de muitos outros em que cada Mega do Backbone pode ser vendido para 10 clientes finais, teriam portanto que vender cada Mega a menos de R$ 35.00 / Mbits/s!
E, observe bem que, se as operadoras OI, Embratel, GVT, CTBC, Telefonica podem vender, no atacado, por R$ 80.00 por Mbits/s, qual é o custo real deles? Por quanto podem conseguir realmente vender? Talvez, digamos, por R$ 8.00 por Mbits/s?!

Afinal prometer 5 Mbits/s daqui a 4 anos e nada é a mesma coisa. O crescimento da banda larga é inevitável ... nos grandes centros. Daqui a 4 anos teremos 5 Mbits/s nas casas dos consumidores, com o governo ajudando, sem ajudar ou mesmo indo em contra.

Para comprovar isto, podemos calcular o aumento da velocidade da Internet no Brasil desde o surgimento da Internet por aqui, em 1995.

Evolução da Internet para o usuário
Lembrando que em 1995 tinhamos a Internet a uma velocidade de 9.6 Kbits/s e qualquer coisa acima disto, tipo 14.4 kbits/s ou 33.6 Kbits/s era algo bastante comemorado, como foi comemorado o surgimento das ligações DVI que prometiam 64 Kbits/s e 128 Kbits/s.
Hoje temos, e é comum e normal, a Internet com 1 Mbits/s, e os clientes reclamando que querem no minimo 2 Mbits/s.
A GVT, a OI, Telefonica, CTBC, Embratel e a NET TV estão oferecendo pacotes de 10 e 15 Mbits/s no Rio e velocidades maiores em São Paulo.
Vamos ficar numa media baixa e considerar que para este ano, temos um padrão de 2 Mbits/s nos acessos a Internet.
Em 15 anos tivemos, no pais, um crescimentos da velocidade da Internet portanto de 2000/9.6 = aprox. a 200 vezes.
Ou seja, o crescimento da velocidade da Internet a cada 5 anos (15 anos de Internet / 5 = 3) resulta em aprox. (raiz cubica de 200) = crescimento de 6 vezes a cada 5 anos, desde o ponto de vista do usuário.

Projetando para daqui a 5 anos, teremos uma velocidade média baixa de 2 Mits/s (hoje)* 6 = 12 Mbits/s para todos, com operadoras oferecendo planos de 100 Mbits/s, considerando uma situação similar com os dias de hoje, onde temos uma Internet popular de 2 Mbits/s e planos de 10 Mbits/s e 15 Mbits/s sendo alardeados pelas operadoras GVT, OI, Telefonica, CTBC e NET TV.
O valor destes 12 Mbits/s terá, também, um preços popular na mesma faixa do que hoje temos 2 Mbits/s.


Evolução da Internet no atacado para os provedores
Podemos fazer um cálculo semelhante com a velocidade e os preços para os provedores. Em 1995 se comprava Backbone Internet da Embratel por R$ 7.500,00 por 64 Kbits/s, como uma velocidade básica. Hoje pode-se comprar 1 Mbits/s por R$ 80.00. A velocidade de venda no atacado, de banda, aumentou em 15 anos de 1000 Kbits/s / 64 Kbits/s = aprox 15 vezes. A cada 5 anos tivemos portanto um crescimento de (raiz cubica de 15) aproximadamente = a 2.5 (dois e meia) vezes.
Quanto aos preços tivemos uma queda de R$ 7.500,00 / R$ 80.00 = aprox 90 vezes. Da mesma forma podemos dizer que a evolução foi de (raiz cubica de 90) = aproximadamente a 4.5 (quatro e meia) vezes a cada 5 anos.
A variação total de preço e banda, a cada cinco anos, foi de aproximadamente 2.5 * 4.5 = 11.25 vezes (onze e 25 centesimos)! Em palavras: aprox onze vezes foi a velocidade de crescimento agregado da Internet no Brasil, considerando preço e banda. Se considerarmos os últimos quinze anos, a evolução foi de 15 x 90 = 1350 vezes.

Se mantivermos um dos fatores constantes, os provedores poderão comprar, no atacado, dentro de 15 anos, 1 Mbits/s (hoje) * 15 = 15 Mbits/s por menos de R$ 100.00, digamos.
Ou, da mesma forma, poderão comprar, dentro de 15 anos, 1 Mbits/s por menos de R$ 80.00 / 90 = menos de R$ 1.00 ! Com isto, a Internet poderá ser vendida por menos de R$ 10.00 por Mbits/s.

Os cálculos feitos acimas, para evolução de velocidade e preço são aproximados, para se ter uma noção da rapidez com que o setor evolui. Evidentemente que podemos prever que, em determinado momento, não se discutirá a velocidade da Internet para o usuário pois chegaremos a um patamar em que todos os usuários, pessoas físicas, estarão satisfeitos.

Limites
Os limites do pacote negociado com as teles evidenciam as poucas garantias dadas ao usuário. O pacote de 1 Mbits/s a 35 reais por mês será oferecido em tecnologia fixa ou móvel, dependendo da disponibilidade, e atingirá todos os municípios que tem rede de telefonia fixa até 2014. Contudo, foram determinadas várias limitações nesses pacotes:

- Franquia de download – os usuários terão franquias crescentes (para a Telefônica, elas começam em 300 Mb por mês na rede fixa e 150 Mb na rede móvel; para a Oi, começam em 600 Mb). Até 2014, esse valor chegará a 1 Gb e 500 Mb. Concretamente, 1 Gb equivale a menos de um filme baixado por mês. Após o uso dessa franquia, a operadora poderá reduzir temporariamente a velocidade do serviço. Esse limite condiciona completamente o uso da internet e impede o uso pleno do serviço;
- Limite de velocidade de upload – até 128 kbps – é apenas duas vezes a velocidade de uma conexão em linha discada e na prática vai dificultar que o usuário publique fotos, vídeos etc.;
- venda casada – embora o ministro tenha afirmado que o pacote de 35 reais não estaria condicionado à venda casada, o termo de compromisso permite essa prática na banda larga fixa, com teto de 65 reais para o pacote. O pacote de 35 reais sem venda casada só é obrigatório na banda larga móvel.

Ao se estabelecer no termo de compromisso a quantidade de Internet que é vista, trafegada, pesquisada, examinada pelo usuário, que pode ser um pesquisador, estudante, cineasta ou mesmo um curioso, se acaba castrando os avanços da Internet no pais e jogando por terra o que se pretende ser uma velocidade de navegação aceitável, como se a Internet fosse uma mera diversão ou passatempo:

- Agora chega! Você já foi longe demais!

Ampliação da base
Poderiamos esperar que se firmasse um acordo para prover Internet, pelo menos de razoavel qualidade, aos 100% da base de assinantes. Não foi este o caso. O termo de compromisso fixa em 15% da base de assinantes, hoje cerca de 42 milhões de residencias. Na prática o compromisso 'estende' - parece piada e é - a banda larga a 6 milhões de assinantes. Ou seja, os 6 milhões de assinantes, com certeza situados nos grandes centros urbanos, onde a oferta e a concorrencia já é bem acirrada, saem mais beneficiados com este 'Termo de compromisso': é a concentração da informação e da tecnologia digital favorecendo e ajudando ainda mais a concentração da renda no pais.

Conclusão
Acho assustador como as pessoas não procuram calcular sobre o que está sendo ofertado e não percebem como este acordo feito é absolutamente escandaloso, cinico e descarado. Os governantes acham, seguramente, que os usuários e consumidores são um conglomerado de idiotas, ou algo semelhante, incapazes de perceber o que realmente acontece.
Mais do que nunca é importante que o movimento popular catalogue as reinvidicações e enumere detalhadamente os pontos que devem ser alcançados. No caso, temos que colocar o pleno atendimento, inicialmente, a toda base de assinantes das operadoras sem limite aos 15 % do termo de compromisso. O segundo ponto é a extensão da Internet a todos os pontos do território nacional sem distinção.
Quando não fazemos isto, nos detalhes, abrimos espaço para individuos encamparem as reinvidicações populares para em seguida privatizarem os justos anseios nacionais, esvaziarem o movimento popular e ainda acabarem se apresentando, em uma eleição próxima, como os conquistadores dos 'avanços'. É um novo tipo de peleguismo, renovado tecnologicamente.

Poderiamos querer uma Internet sem limite de velocidade, da mesma forma que na Alemanha os carros não tem limite de velocidade nas autoestradas. Mas isto, logicamente, é irreal. Tudo tem seu limite. O que nos resta é determinar que serviços queremos dentro dos limites que fixamos.
Em termos de velocidade de banda, podemos estabelecer o marco de 10 Mbits/s como um alvo ideal para todo consumidor.
Porque 10 Mbits/s?
Porque, com esta velocidade, pode ser entregue Internet, telefonia e televisão de boa qualidade. Os 3 serviços podem ser considerados um só! Podemos destacar também que existem opiniões divergentes a este respeito. Muitas acham que é suficiente menos de 5 Mbits/s para oferecer estes 3 serviços: Internet, telefonia e televisão.

A Internet surgiu e tem sido apresentada como um serviço agregado, derivado da telefonia e da televisão. E é com base neste principio que o 'Termo de Compromisso' foi assinado, usando-se preceitos que se baseiam numa premissa que está sendo ultrapassada e que tem sido usado para fortalecer as teleoperadoras Oi, Embratel, CTBC, GVT e Intelig. É importante considerar a nova situação, que vivemos hoje, que coloca a Internet na vanguarda e os serviços de telefonia e televisão como serviços acessórios e derivados, contidos dentro da Internet, como é o caso de VOIP - Voice over IP, IPTV - Televisão pela Internet, etc. Podemos mencionar outros serviços realizados, que só se tornaram realidade com a Internet, como seja, o comércio eletrônico, as redes sociais, etc. É com base nestas caracteristicas que se fala em convergência digital e que unirá a Internet, com cerca de 1,1 bilhão de usuários no final de 2006; telefones celulares com 2.7 bilhão de usuários e televisão, com cerca de 1.4 bilhão de aparelhos em uso.

O papel do governo e das politicas publicas é se voltar para TODO o pais e as populações menos favorecidas e afastadas dos grandes centros, incorporando a todos na sociedade, sem distinção, construindo com isto uma nação forte, se comunicando diretamente entre si, capaz de se posicionar bem internacionalmente e sem a forçada intermediação, enfoque unilateral e muitas vezes censura das grandes midias,

Não podemos aceitar que, em nome de uma justa reinvidicação, se acabe fazendo um trabalho de confundir Banda Larga com Bandalha para com isto favorecer as Teleoperadoras e algum grupo com quem, alguns, tem seguramente intimidades a velocidades muito superiores a 100 Mbits/s, talvez mesmo na faixa dos Gigabits/s.