domingo, 15 de maio de 2011

13 de maio e o Haiti

Toussaint L'Ouverture
No Brasil se comemora, como grande feito, a abolição da escravidão em 13 de maio de 1888, como um belo produto de um império vergonhosamente decadente que, já que nada mais tinha a esperar ou nada mais conseguia produzir, se dispunha a mais uma concessão impossível de continuar reprimindo. O Haiti já tinha, nesta época, acabado com a escravidão há 84 anos, na única revolta de escravos vitoriosa da humanidade, poupando com isto as mortes por maus tratos, torturas e privações de 84 anos a mais que o Brasil humilhantemente contabiliza.
O Haiti foi o primeiro pais que conquistou a independencia nas Americas, depois dos EEUU, em 1804, após batalhas, revoltas e insurreições no período de 1791 a 1804, em boa parte influencidas pelas idéias da Revolução Francesa de 1789.
Considera-se a Revolução Francesa de 1789 o acontecimento político e social mais espetacular e significativo da história contemporânea. Foi o maior levante de massas até então conhecido que fez por encerrar a sociedade feudal, atrasada, levando a queda do antigo regime e abrindo caminho para a sociedade industrial, burguesa e mais avançada.
Nenhuma outra revolta de escravos da humanidade conseguiu resultados comparáveis as vitórias da revolta de escravos do Haiti que conseguiram se separar da metropole francesa, em uma luta original em que conseguiram derrotar o melhor, maior e mais bem armado exército do mundo: o exército frances de Napoleão Bonaparte.
Para entender melhor esta luta é necessário realçar a personalidade da figura que liderou a rebelião: Toussaint L´Overture, que para muitos historiadores foi um lider notável em uma época de lideres notaveis.
A ambição frustrada de Napoleão Bonaparte e da burguesia francesa e o ódio que tinham do 'escravo rebelde' fez com que armassem uma enorme frota em 1802 para invadir o Haiti, sob o comando do general Victor Emmanuel LeClerc, esposo da sua irmã Paulina. O plano era desarmar os haitianos, deportar Toussaint e restaurar a escravidão - este aviltamento final da Revolução Francesa de 1789. O general negro (Toussaint L´Overture) foi convidado para chegar a um acordo num dos navios, mas foi preso, traido e enviado ao forte de Joux situado na França, nas montanhas do Jura. Napoleão decidiu matá-lo por maus tratos, frio e fome. Seus carcereiros o humilhavam, diminuiram sua comida e quando chegou o inverno, reduziram sua cota de lenha para aquecimento. Não é muito diferente a que Bradley Manning, o soldado norte-americano preso em maio de 2010 no Iraque, supeito de ter passado informações restritas ao site WikiLeaks , é submetido nos EEU.
Logo Toussaint L´Overture foi achado morto, “sentado, com a testa encostada ao muro da chaminé, em 7 de abril de 1803”. Este foi mais um crime covarde cometido por ordens de Napoleão Bonaparte. A luta de Toussaint e sua morte  é muitas vezes citada como uma das tragédias da humanidade.
A Revolução Haitiana, também conhecida por Revolta de São Domingos (1791-1804) foi um período de conflitos brutais, revoltas, insurreições contra a tirania da escravidão e sublevações na colônia de São Domingos, única forma de se eliminar a escravidão e alcançar a independência do Haiti como a primeira república governada por pessoas de ascendência africana. Apesar de centenas de rebeliões ocorridas no Novo Mundo durante os séculos de escravidão, apenas a revolta de São Domingos, que começou em 1791, obteve sucesso em alcançar a independência permanente, sob uma nova nação. A Revolução Haitiana é considerada como um momento decisivo na história dos africanos no novo mundo.
A obra de C. L. R. James, Os Jacobinos Negros, descreve estes fatos, dando uma abordagem histórica revolucionária. Este livro foi lançado pela primeira vez em 1938, as vesperas da 2a. Guerra Mundial e nele C. L. R. James aproveita, fazendo um paralelo da situação fascista vivenciada naquele momento, com a revolução haitiana e ataca 'os liberais e social-democratas que hesitam até que o machado do fascismo caia em suas cabeças, ou um Franco comece a sua contrarevolução cuidadosamente planejada'.
Diferentemente do livro de C.L.R. James, que é um documento histórico, está o livro de Isabel Allende: 'La Isla Bajo el Mar', publicado em 2009, que é um romance justamente sobre este periodo. Quando comecei a ler me surpreendi com datas e lugares históricos e pude constatar, após uma pequena pesquisa que ela, Isabel Allende, sobrinha de Salvador Allende, descrevia, verdadeiramente fatos históricos.  Depois em uma entrevista Isabel afirma que, após um longo estudo histórico sobre a revolta de escravos do Haiti, despertou um dia com a idéia da personagem Zarité Sedella que percorre as páginas do romance.
Assim, Isabel Allende, apresenta Zarité:
'Em meus quarenta anos, eu, Zarité Sedella, tive melhor sorte que outras escravas. Vou viver longamente e minha velhice será feliz porque minha estrela - mi z'etoile - brilha também quando a noite está nublada. Conheço o gosto de estar com o homem escolhido por meu coração quando suas mãos grandes excitam a minha pele.'

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